PF diz que investiga se morte de funcionário de fazenda teve ligação com conflito
Duas espingardas calibre 12 usadas por seguranças privados da Fazenda Cachoeira foram apreendidas por equipes da Polícia Federal e do Instituto de Criminalística nesta segunda-feira (17) no município de Iguatemi. Um segurança também foi preso em flagrante pelo assassinato do indígena Vicente Fernandes, 36 anos, baleado na nuca. O funcionário de uma fazenda vizinha também morreu e um indígena acusado do crime já havia sido preso pela polícia estadual.
De acordo com a PF, as armas dos seguranças seguirão para exames que buscam esclarecer quem atirou durante o ataque à Retomada Pyelito Kuê, neste domingo. Os policiais também recolheram cápsulas, material biológico e ouviram indígenas que estavam no local. Dois suspeitos foram identificados e um deles, reconhecido por um indígena ferido, foi levado à Delegacia da Polícia Federal em Naviraí.
A segunda morte confirmada pela Secretaria Estadual de Justiça e Segurança Pública é a de Lucas Fernando da Silva, funcionário de uma fazenda da região. Há feridos hospitalizados, segundo autoridades.
Sobre a morte de Lucas Fernando da Silva, a Polícia Federal afirmou que o óbito está registrado, mas ainda passa por investigação para determinar se houve ligação com o confronto. Segundo a corporação, a apuração busca esclarecer se a morte ocorreu no contexto do ataque ou se decorreu de outra circunstância.
Pelo menos 40 pessoas estavam acampadas na área da Fazenda Cachoeira. Dos 12 barracos erguidos, 10 teriam sido incendiados logo após a invasão.
A região vive uma longa disputa fundiária. Em junho, a Funai (Fundação Nacional dos Povos Indígenas) atualizou o grupo responsável por estudar a identificação e delimitação dos territórios Iguatemipeguá II e III, que abrangem quatro municípios do sul do estado. A retomada ocorria justamente nesse contexto de reivindicação territorial.
Para o MPI (Ministério dos Povos Indígenas), a ação teria sido conduzida por pistoleiros. O governo federal acionou órgãos de segurança, enviou equipes do Demed (Departamento de Mediação e Defesa) e disse acompanhar o caso com atenção. O MPI e a Funai lembraram que, em 3 de novembro, foi criado o GTT (Grupo de Trabalho Técnico), com participação do MDA (Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar) e do MGI (Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos), para debater medidas de mediação em conflitos envolvendo povos indígenas no sul do Estado. As reuniões ocorrem semanalmente.
A Sejusp confirmou as duas mortes e informou que suas equipes atuaram em apoio às forças federais. O suspeito de efetuar os disparos, um indígena também ferido, foi detido pela Polícia Militar e entregue à PF. A pasta ressalta que a PM não fazia segurança ostensiva na área no momento do ataque.
O secretário de Segurança, Antônio Carlos Videira, disse que o estado seguirá dando suporte às investigações. O Ministério da Justiça e Segurança Pública informou que a Força Nacional reforçou o patrulhamento na região, numa tentativa de evitar novos confrontos.